sábado, 1 de março de 2014

Para esta noite não vou demorar muito nos vagares filosóficos nem nos neologismos nos quais tenho costume de me desviar. Aliás, ao rever os discursos das duas últimas semanas apercebo-me duma outra carência que, por desejar evitar a aparência de egoísmo (um ponto mesmo difícil de lograr dado o facto deste ser um blogue pessoal sobre temas pessoais num contexto individual e / ou ao redor de assuntos de família, etc), ignorara na hora de compor estes textinhos, como se fossem curtos ensaios sobre a arte de ensaiar.

Dali, uma série de pensamentos dirigiram-me até a uma relacionada, a ser esta a noção do poder das decisões. Pode-se-nos ou não gerar um certo constrangimento interno quando a confrontação das opções que nos são apresentadas no dia-a-dia chega ao seu momento crucial. Hoje, por exemplo, estava a caminho da oficina à qual tinha levado o meu carro fazer uma revisão do pára-choques (sofrera um pequeno acidente na semana passada e, embora o terapeuta me tivesse declarado em perfeitas condições físicas e não houvesse danificação visível alguma ao carro, resolvi levá-lo para lá por via das dúvidas) fazer compras quando lembrei de repente que a pequerrucha gosta sempre de me acompanhar nas aventuras frutíferas dos Sábados de manhã (entre outras de tipo carnívora ou duma sorte de busca das especiarias inefáveis que somente se acham, às vezes, na penúltima secção do Wal-Mart). Telefonei então à casa, e ao contar o meu plano de ir buscá-la para ali ouvi um forte grito a dizer que "sim"! O meu coração encheu-se de alegria, não por ter de dar mais uma volta e meia para conseguir voltar ao lar-doce-lar mas sim por ter surpreendido a minha filha com a possibilidade dalgumas horas de atenções dedicadas. Padeço mesmo dum fraquinho pela felicidade duma munchkin.

Nesse caso a decisão foi dupla: aquela de compartilhar a experiência vital e essencial das compras com alguém, e outra de outorgar um contentamento inesperado a uma pessoa para quem o mundo ainda é um acontecimento sempre por acontecer. Como dizia Platão, as boas acções sempre ajudam a resolver as aflições dos outros, como se a nossa sala de estar fosse a cova ... mas também não ia indagar em questões de egoísmo ...

Portanto, da decisão de manhã surgiu esta da noite, de lhes contar uma história um bocado mais íntima e de menos citações críticas indiretas, na nossa língua tão simples e bela de casa, e de compartilhar convosco um poema meu dos últimos dias. Espero que gostem, pois, fala mesmo dos temas da decisão e da memória. 



Parceiros da rara espécie:

Uma borboleta
Passou pelo jardim

Embora do jardim
Tenhamos removido

Ou, melhor, moído
As folhas atraentes

Às asas a chiarem
No lindo sol da mente

Passou pelo jardim
A minha borboleta

19/II/2014

Boa noite a todos / Buenas noches a todos / Good night to all!

Sem comentários:

Enviar um comentário