Pão de Sandes:
Será que vale a pena continuar?
Sonhei com uma grande obra de condução,
De Luanda para Windhoek, e a Joanesburgo,
A acabar a façanha em Maputo,
Lugares que nunca visitei, talvez vá algum dia destes,
E no primeiro andar, à vista desde os vidros de protecção,
Ela praticava a ginástica e olhava-me de quando em quando
Para ter certeza que a seguisse e celebrasse.
Sonhei que estava um dia em Portugal,
Cito, e ouvem-se outras músicas e metades das faixas
Pela RTP que demora menos de dois segundos em chegar
Ao meu telemóvel, Marinetti tinha rebentado um edifício,
Quer dizer, uma faixa azul,
Será que vale a pena continuar?
Quando no seio até os mamilos desejam reiterar o seu terror,
E o olhar desenvolvido amamenta o pasto que mexe no vento,
Sonhei que estava um dia
Em Curitiba, seixo do espírito atirado ao filho da
esperança,
Trevisan nem aceitara estas palavras roubadas aos fadistas,
E no segundo andar, à vista desde o chão em baixo,
E a explosão de sobre-coxas adolescentes acima das barras
Num equilíbrio que em segundos se desajeita.
Depois, como se nem o alento efémero dum prato de batatas
Aquecidas num forno e lá esquecidas,
Passeios algarvios e solitários, e bifurcações que nem
interessam,
Aquecidas no sol e lá esquecidas,
Será que vale a pena continuar?
A rapariga que pergunta se desejo uma ou duas bolachas
Com a refeição, de mesas de um metro e sessenta de altura,
Ou de conversações nas que todos concordámos há tempo
E desfazemo-nos em pegarmos todos no pão da sandes da mesma
forma.
E é no terceiro andar que as vozes derretem aos poucos pelos
buracos
Que se abriram entre aqueles antigos tijolos e amores de
mentira,
Quando as nuvens violetas se murcham nos angélicos raios
amarelos
Do final da tarde em Lisboa
Há horas que as mãos trémulas te deram a tua fome
E tantos dias que os meus braços tas aceitaram em vão.
Será que vale a pena continuar?
Tudo vale a pena, disse, e repito várias vezes ao dia
Em emails lidos e relidos sem reparação,
Que sim ou que não, quer impressos ou deitados
Numa lixeira na Mouraria como acordes à meia-noite
Será um dia quando os meus seios desejarem reiterar o seu
terror,
Quando os trovões alumiarem o meu cerebelo e as águas doces
Misturarem com as manteigas e farinhas do futuro,
Sonhei que estava um dia em Portugal.
E esta alma hoje à noite pequena e fixada no ecrã
Que faz as pupilas doerem na sua questão elétrica e viva,
Sem dúvida com as perguntas que todos já fizéramos,
Se é possível de apenas o açúcar numa única colher de pau
Atravessar o Kalahari rumo à fronteira
Entre leões e ginastas a pularem sem perdão.
07/2015
Deixem-me saber o que pensam :)
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