segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Now for an original poem / E agora, um poema meu:



Pão de Sandes:

Será que vale a pena continuar?

Sonhei com uma grande obra de condução,
De Luanda para Windhoek, e a Joanesburgo,
A acabar a façanha em Maputo,
Lugares que nunca visitei, talvez vá algum dia destes,

E no primeiro andar, à vista desde os vidros de protecção,
Ela praticava a ginástica e olhava-me de quando em quando
Para ter certeza que a seguisse e celebrasse.

Sonhei que estava um dia em Portugal,
Cito, e ouvem-se outras músicas e metades das faixas
Pela RTP que demora menos de dois segundos em chegar

Ao meu telemóvel, Marinetti tinha rebentado um edifício,
Quer dizer, uma faixa azul,

Será que vale a pena continuar?

Quando no seio até os mamilos desejam reiterar o seu terror,
E o olhar desenvolvido amamenta o pasto que mexe no vento,

Sonhei que estava um dia
Em Curitiba, seixo do espírito atirado ao filho da esperança,
Trevisan nem aceitara estas palavras roubadas aos fadistas,

E no segundo andar, à vista desde o chão em baixo,
E a explosão de sobre-coxas adolescentes acima das barras
Num equilíbrio que em segundos se desajeita.

Depois, como se nem o alento efémero dum prato de batatas
Aquecidas num forno e lá esquecidas,
Passeios algarvios e solitários, e bifurcações que nem interessam,
Aquecidas no sol e lá esquecidas,

Será que vale a pena continuar?

A rapariga que pergunta se desejo uma ou duas bolachas
Com a refeição, de mesas de um metro e sessenta de altura,
Ou de conversações nas que todos concordámos há tempo
E desfazemo-nos em pegarmos todos no pão da sandes da mesma forma.

E é no terceiro andar que as vozes derretem aos poucos pelos buracos
Que se abriram entre aqueles antigos tijolos e amores de mentira,
Quando as nuvens violetas se murcham nos angélicos raios amarelos
Do final da tarde em Lisboa

Há horas que as mãos trémulas te deram a tua fome
E tantos dias que os meus braços tas aceitaram em vão.

Será que vale a pena continuar?

Tudo vale a pena, disse, e repito várias vezes ao dia
Em emails lidos e relidos sem reparação,
Que sim ou que não, quer impressos ou deitados
Numa lixeira na Mouraria como acordes à meia-noite

Será um dia quando os meus seios desejarem reiterar o seu terror,
Quando os trovões alumiarem o meu cerebelo e as águas doces
Misturarem com as manteigas e farinhas do futuro,

Sonhei que estava um dia em Portugal.

E esta alma hoje à noite pequena e fixada no ecrã
Que faz as pupilas doerem na sua questão elétrica e viva,
Sem dúvida com as perguntas que todos já fizéramos,

Se é possível de apenas o açúcar numa única colher de pau
Atravessar o Kalahari rumo à fronteira
Entre leões e ginastas a pularem sem perdão.

07/2015


Deixem-me saber o que pensam :)
     

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